Se um palíndromo é quando uma palavra ou frase possuem o
mesmo significado lidas de trás para frente, farei algo parecido com o título
desse texto, chegando à esquisita palavra “sisão” (tomei a liberdade de por um
til nesse acento pra dar mais sonoridade). Assim, escrito com “ésse”, Sisão é o
nome de uma ave de pequeno porte, encontrada no sul da Europa e na Ásia; infelizmente
em perigo de extinção. Quando escrito com “cê”, chegamos a uma espécie de palíndromo,
palavra com aspectos que se assemelham a uma possível interpretação para oásis.
Lemos “cisão”: separação, divisão, exclusão. Coincidência estarmos vivendo divididos,
separados uns dos outros e, sim, diante da possibilidade de extinção, tal qual
a ave asiática? É quase uma vingança, um acerto de contas da natureza. Aves
asiáticas em extinção nos colocando na mesma situação. Seria uma enorme
coincidência. Seria. Primeiro pois eu não acredito em coincidências, e segundo
porque Oásis é bem mais que uma parte excluída no deserto.
Quando você pensa em um oásis logo vem à mente aquele milagre
da natureza em oferecer uma lagoa, com árvore e tudo, bem no meio de algum
gigantesco deserto, certo? Sim. Esse é o oásis clássico, praticamente um arquétipo
da palavra; se é que algum dia existiu de fato um desses pequenos milagres que não
fossem miragens. Bem, mas eu, você, e o próprio oásis podemos ir muito além do
que isso. Um pouco de abstratismo com uma boa dose de poesia e pronto: elevamos
a mesma relação para outro patamar de significado ou possibilidade. Em outras
palavras, uma metáfora. Vendo assim, um oásis transforma-se em respiro, folga,
descanso: a esperada e desejada paz, em meio a tudo que se opõe à ela. Desligar
a Globonews e abrir um livro já seria um bom exemplo. Mas calma, dá para ir um
pouco mais longe.
Vivendo a situação que vivemos (um dia bastará ver o ano
dessa publicação para entender ao que me refiro), a melhor coisa que pode acontecer
na sua vida, no seu dia a dia, é encontrar – ou ser encontrado por – um oásis. Lembre-se:
aquilo que você busca também está à sua procura. Encontrar e ser encontrado simultaneamente
é uma questão de tempo, para aqueles que nunca desistem de acreditar. A
almejada paz de espírito, o bem estar de simplesmente sentir-se vivo e
privilegiado, em meio ao caos da pandemia. No qual podemos nos refrescar da
panela de pressão, nos aliviar da incômoda agonia em forma de máscara,
incertezas e dois metros de distância, Nem que isso aconteça por alguns minutos
(com sorte, horas), algumas vezes por dia, e esquecer de tudo, permitir-se ser
feliz, no melhor sentido “sentir” da palavra. Isso sim é o que se pode chamar
de Oásis em tempos de Coronavírus. Algo como o Amor nos Tempos do Cólera.
Talvez, se não fosse o tamanho do supracitado caos
pandêmico que se instaura, o prazer dessa sensação não acompanhasse a mesma magnitude;
bem como faz o silêncio que sucede uma algazarra ensurdecedora, ou até mesmo o
lago e sua árvore em meio as areias do deserto. Ao contrário, é justamente essa
dicotomia que empresa ao oásis tanto valor e raridade. Qual é o seu oásis? Bom,
talvez esteja ao seu lado, no fundo de uma gaveta ou até mesmo em um aplicativo
de celular. Eu posso explicar (ou tentar) o meu.
Não é possível descrever a sensação, por mais figuras de
linguagem que eu coloque nessas linhas. Posso afirmar, no entanto, através do
alfabeto do coração e pela janela da alma, tratar-se de algo precisamente calculado
para acontecer agora, paradoxalmente simultâneo a toda loucura surreal que o
rodeia. Só assim para finalmente começar a me tornar aquilo que sou, metade de uma
incrível antítese em rápido crescimento que se alastra como chama: oásis do meu
próprio oásis, em plena s(c)isão. De trás pra frente, com s ou c, de cima abaixo,
por todos os lados, tempo e espaço...
É gratidão que fala?
Comentários
Postar um comentário