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Mostrando postagens de 2007
Para nascer feliz Embalo uma criança em meu colo. Já é tarde, ele precisa dormir. Sento no sofá e trago-o pra mais junto de mim, enquanto faço carinho em sua barriga. Ele me encara, eu sorrio. Começo a cantar; acalma. A mim e a ele. Escolho Cazuza, Preciso dizer que te amo, e canto baixinho. O carinho continua no ritmo da música. Eu nem preciso dizer que o amo, está em mim, no olhar, no abraço, no carinho que embala meu ninar... Posso dizer que o amo antes mesmo dele nascer; bem antes. Já o amava desde o dia em que soube de sua vinda. Então, alguns meses depois, o amor se tornou concreto. Podemos concretizar o abstrato amor, podemos sim. São nos momentos, é nesse momento. Penso em todos os outros que estão por vir e quase choro. Minha voz estremecida ajuda musicalmente, combina com o tom da canção. Ainda não te levo na escola, mas você já faz parte do meu show. Curioso. Algumas horas antes, tive uma daquelas conversas complicadas que a gente tenta evitar, mas acaba passando várias veze
CONTARDO CALLIGARIS "O Passado" Nada passa, nunca; tudo o que acontece é indelével, sobretudo em se tratando de amor "O PASSADO ", de Hector Babenco, estreou na última sexta-feira. O filme, que, antes disso, abriu a Mostra de Cinema de São Paulo, é inspirado no romance homônimo de Alan Pauls (Cosac Naify).Resumindo a história ao osso, para não estragar o prazer dos espectadores futuros: Rímini e Sofía se juntam muito jovens e se separam, amistosamente, depois de 12 anos. De uma maneira ou de outra, a relação que eles viveram não os deixa tranqüilos. Na saída do cinema, a conversa era animada. Os amigos (homens) achavam o filme tão apavorador quanto "Atração Fatal", de Adrian Lyne: para eles, Analía Couceyro, como Sofia, era mais inquietante que Glenn Close, justamente por parecer menos louca. Nossos objetos de amor talvez sejam sempre assim, familiares até o dia em que, na hora de uma separação, a própria paixão os torna totalmente estranhos. As amigas res
Falante Na primeira noite confesso que não fui muito com a cara dele. Eu tinha apenas seis anos, mas já gostava de cuidar do que tinha; meu quarto era o meu reino. Mas, meu quarto pertencia a um reinado maior: minha casa. E a rainha (mamãe) obrigou-me a aceitá-lo. Como se não bastasse, Marcelo Marmelo Martelo – obra-prima da literatura infantil – veio junto, bem em cima do tal criado-mudo. Enquanto tentava pegar no sono, contando carneirinhos, escutei uma voz. Acendi rapidamente o abajur e nada. Não tinha nada diferente no quarto, exceto pelo novo item da mobília. Olhei para ele e juro que pensei tê-lo visto olhando para mim. Pode ter sido só impressão, mas tinha certeza que o livro fora deixado fechado. Apaguei os olhos e fechei a luz. Ou vice-versa (estava confuso). A voz voltou e continuou falando o que parecia ser o começo do livro. Decidi permanecer de olhos fechados e, aos poucos, a história do pequeno Marcelo foi se confundindo com a minha e quando percebi, a luz da manhã me aco
Sempre o primeiro. Pra sempre. “Quem ama pensa que vai ser felicíssimo e estranha qualquer espécie de sofrimento. Ora, a vida ensina justamente que duas criaturas que se amam sofrem, fatalmente.” É assim que começa um dos textos de Nelson Rodrigues. O tema: amor; claro. Quando alguém que nunca amou de verdade ama, o que ocorre é algo incrível, uma mágica; tudo parece lindo, os problemas são menores, a alegria infinita. Sensações fantásticas tomando conta... do ar, das coisas, dos cheiros, dos sonhos. Mas, infelizmente Nelson está certo, e no amor nem tudo são flores. Existem sim momentos que ficam eternamente, mas a paixão chega ao fim, e com ela, o amor. E quando isso acontece, a pessoa se sente sem chão, sem vontade, sem vida, sem reconhecer o valor da liberdade e das coisas que abrira mão enquanto amava. Acha que o que deixou de ser é mais importante do que tudo que está por vir. O que ela não faz idéia é o quão pequeno tudo isso se tornará
Ética de Elite Todo mundo conhece o filme Tropa de Elite, a nova coqueluche brasileira. Muitos assistiram de forma ilegal – assim como eu – e outros ouviram falar, ao menos. Além de ser dono de um realismo assustador, o filme se aventura em âmbitos de ideologia e moral. O estado repressor, a sociedade estereotipada, enfim, uma massa heterogênea que podemos chamar de Rio de Janeiro; no caso. Mas não vim aqui para falar de política, tampouco antropofagia (não me arriscaria nesses temas). O assunto é a ética. Tenho escutado muita gente, me incluo no grupo, criticando o sistema e os playboys que fumam maconha. Curioso: não são esses críticos os mesmos que assistiram ao filme pirata? Se não me falha a memória, a pirataria provêm da mesma fonte do tráfico, e quando não, é crime do mesmo jeito. Bonito isso: vir com um discurso todo correto depois de um filme pirata. Outro dia, uma amiga minha confidenciou-me que havia ‘comprado’ uma prova, de um funcionário da instituição onde enstuda. Detalh
Encontros Pessoas que acabam se encontrando, se perdendo e se reencontrando em seu encontro. É o amigo do amigo que se torna muito mais. E há o contrário: se a gente encontra tanta gente ao acaso, quanta gente a gente deixa de encontrar, por acaso. E quantas, a gente encontra sem encontrar? Uma vez me disseram que o que procuramos também está a nossa espera. Será? Espero procurar e procurando, encontrar. E encontrando, procuro acreditar. Acreditar. O maior mal de quem procura é duvidar do que encontra; quando encontra. Se é que encontra. Quem procura, acha? Se um dia parar de procurar. Tem dias que a gente se sente como quem nunca vai encontrar. Mas eis que o mundo gira e mostra aonde olhar: é pra lá. Vai procurar. Basta acreditar. Mas não há pressa, não. Nada é pra já. Futuros amantes, quiçá. Se amarão sem saber. E, para sempre, irão procurar. Encontro uma nova procura. Uma procura que não procura; encontra. Vejo novos olhos. Olho novas lágrimas, tão novas... De distantes, chegam pert
O primeiro último dia Acordou mais cedo do que deveria, antes do despertador. Aproveitou o tempo e seu banho foi mais longo. Desceu as escadas já vestido e viu que a empregada ainda não estava lá. Normal, pensou. Às vezes, ela atrasa mesmo. Comeu alguma coisa e, finalmente, ganhou a rua. Sua casa fica em uma vila bastante aconchegante, e dos poucos vizinhos que possui, nenhum resolvera sair à mesma hora que ele. Melhor assim; alguns deles adoram alongar a conversa. Reparou o dia lindo, daqueles com sol morno e brisa fresca. Sorriu e partiu para o metrô. Chegou sozinho à entrada, onde tantas pessoas passam todos os dias, e percebeu que estava fechada. Estranho. Seria greve? (...) Bateu palmas, chamou por qualquer um, e sem ser ouvido, decidiu pegar um ônibus. Quase meia hora de espera no ponto, e nenhum veículo passou. Teria de ir a pé. Que absurdo! Talvez levasse mais de uma hora andando, mas não havia outra opção. Caminhou por ruas e avenidas, todas silenciosas. O que teria acontecid

Lápides - Por que não encarar tudo com bom-humor?

Os melhores epitáfios Eu disse que não tava me sentindo muito bem hoje. Vou, mas eu volto. Porque você não me disse que precisava trocar a pastilha do freio? Vivi todos os meus dias como se fosse o último. Hoje, eu acertei. Fiz o que pude. Estamos sem acidentes há 0 dias. Fique longe da minha esposa. Descarregada? A-hã. Sei. Espero vocês lá. Finalmente magro.

Letras de uma quarta-feira

Acho que me transformei em algo parecido com um escritor. Digo parecido, porque não sou assim um escritor. Daqueles que você ouve falar, ou melhor, lê; quem dera. Sou um escritor mediano, em estatura e escrita. Faço textos, por hobby e por vontade. E, ás vezes, por trabalho. Comecei escrevendo sobre mim. É mais fácil, é como um diário... Você falando de você. Não tem erro (é o que estou fazendo agora, a propósito). O passo seguinte é se aventurar no fantástico mundo dos contos. Crônicas vêm lado a lado. E por aí vai. O caminho natural que se segue é falar dos sentimentos e de pessoas próximas. Quero escrever música e peça de teatro. Sensacional. Se o resultado fosse medido pela empolgação do autor, teríamos um hit e casa lotada até a última apresentação. Vamos ver, vamos torcer. Escrevo sobre tantas coisas diferentes que misturo tudo com a minha vida. Acho que de tanto inventar sonhos, e sonhar acordado, essa noite, contrariando o que tem acontecido há muito tempo, eu não sonhei. E aco

Eterno

Esquecera a persiana aberta na noite anterior, e agora pagava o preço. Estava sendo acordado pelos primeiros feixes do sol da manhã. Não era tão ruim assim, pensou. Afinal, havia muito o que fazer. Levantou-se com dificuldade, uma vez que suas articulações não recebiam óleo há algumas horas, e preparou-se para sair. Lubrificou cada dobra cuidadosamente e ajeitou seu colar em formato de coração. Ele pulsava vivamente em cor vermelha, bem no meio do peito de metal. Desceu a rua com tudo planejado na cachola. Precisava apenas comprar as flores e mandar entregar no mesmo local de sempre: aquele banquinho do parque. E para a mesma pessoa de sempre: aquela menina linda que parecia saída de um conto de fadas. É certo que as tentativas anteriores não funcionaram, mas flores funcionariam. Comprou um buquê de rosas. Vermelhas, mas rosas – garantiu o florista. Foi até o parque e colocou-se em uma posição na qual podia vê-la e ser visto por ela. Assim que a menina recebeu as flores, ficou encantad

Novas idéias

A vida apronta cada uma, não é mesmo? Muitas vezes esquecemos o que não podemos esquecer. Acreditamos no que não é verdadeiro. Choramos quando devemos sorrir. Mudamos quando deverímos ter ficado no mesmo lugar. Fazemos tudo que não deveríamos fazer. Desistimos daquilo que deveríamos tentar. Ignoramos o que precisamos ver com clareza. Valorizamos o que não tem valor. Enganamos aos outros. Enganamos a nós mesmos. E a pergunta que fica é sempre a mesma: por quê? Cada vez mais me convenço de que a resposta também nunca muda: porque sim.

Sonho de criança

Ontem postei uma frase que me veio à cabeça, de repente. Daquelas que surgem de uma conversa despretensiosa, às cinco da tarde de um dia chuvoso. Duas horas depois, a maior tragédia da aviação brasileira acontecia. Na hora em que recebi a notícia, não me dei conta de muita coisa. Até porque, o choque e a preocupação tomaram conta. Fui visitar a casa da minha cunhada e passei bons momentos. Brinquei com meu sobrinho no durante muito tempo; tempo esse em que assistíamos às cenas do desenrolar do acidente pela televisão. Contraste. Tanta dor e escuridão aos meus olhos. Tanta vida e luz em minhas mãos. Muita gente jovem estava naquele avião. Não apenas jovens fisicamente, mas jovens de alma. Gente que acreditava na máxima que inicia meu post de ontem. “Nunca é tarde para correr atrás dos seus sonhos.”. Pessoas que guardavam dezenas de sonhos em uma gaveta especial, dentro do coração, esperando a hora certa. Todos eles adorariam uma segunda chance de abrir essa gaveta. Ou de poder fazer iss

Suficiente

Quinze minutos. É tudo que você precisa. Em quinze minutos, este texto já estará terminado, provavelmente. Com quinze minutos dá para fazer uma refeição – o restante é conversa e enrolação. É o tempo ideal para um bom banho sem excessos. Conhecer alguém e fazer um amigo. Ler (a parte que interessa de) uma revista inteira. Um bloco de qualquer programação televisiva dura, em média, quinze minutos. Dizem que é o tempo máximo que a nossa concentração pode ficar focada a uma única coisa, sem se distrair. Também conhecido como quarto de hora (principalmente para os de origem britânica), quinze minutos servem para refletir. Nem mais, nem menos. Quinze minutos pensando em algo é o tempo ideal para chegar a uma resolução. Menos do que isso, talvez não seja suficiente para você se colocar de fora da situação, e tudo que se vê é parcial e limitado. Com os quinze, é possível ver o todo: o antes, o agora e até o depois. E os três vistos de cima; ao mesmo tempo. Talvez esse seja o segredo de todas

Ainda é cedo

Mais uma noite no trabalho, ainda é cedo. Acho que vou pegar trânsito para ir embora – o trânsito da manhã. É curioso trabalhar à noite. Acho que eu produzo mais. Sempre fui assim, se me lembro bem. Trabalhos de escola, arrumações de quarto, enfim, eu tinha a tendência de adiar as coisas e resolver na última hora. Quase sempre à noite. Ultimamente não tem sido tendência não; é minha única opção. A parte boa de ficar até tão tarde no trabalho é ocupar a cabeça. Não dá tempo de pensar em besteira, muito menos ficar imaginando coisas. Sobra tempo apenas de pensar no primordial, no lado bom da vida e das pessoas que passam por ela. Nossa mente adora pregar peças e a gente confunde tudo. Se não há tempo nem pra confusão, as coisas vão se resolvendo. Afinal, com a cabeça vazia ou não, o mesmo camarada chamado “tempo” não deixa de passar. Outra vantagem é que, morrendo de sono, você e seu colega de trabalho ficam muito mais engraçados. Quando você menos perceber, as coisas já estão bem melhor

Um belo dia

Um belo dia, tudo mudou na minha vida. Foi meio sem querer, querendo. Um abraço aconteceu. Mas não foi qualquer abraço, não. Um momento espetacular aconteceu. Por mais palavras que utilizasse aqui, não conseguiria descrevê-lo. Troca intensa de energia e sentimento, mas tão intensa, que modificou duas pessoas para sempre. Desde então, um pouco de mim passou a fazer parte dela. E eu deixei de ser só eu; também era um pouco ela. (...) Que belo dia. Mais um ano se passou, e agora não sou mais dela. Ela não é minha, mas continua dentro de mim. E eu sei que vivo dentro dela. Por que tudo mudou afinal? Esse é um daqueles famosos momentos em que a vida vem e transforma todas as perguntas. Dói. Dói por tudo que já doeu. Dói pelo que deveria ter doído. Dói por saber que um dia não doerá mais. Simplesmente dói, porque é assim que tem que ser. Os erros, às vezes, parecem maiores que os acertos. Engano. Os erros existem para que a gente não os faça mais. É claro que cometemos outros, diferentes,
Muito ruim ou quase bom? Uma vez comentei sobre algo que meu avô costumava repetir, e o assunto, apesar do tom fictício e tragicômico, fez sucesso, obtendo imediata identificação dos leitores. Algumas histórias de vida valem um livro inteiro. A do meu avô, uma enciclopédia. Nos poucos onze anos em que vivi com ele, aprendi muita coisa, e vou contar mais uma de suas eternas frases. Já que da última vez comecei o texto com ela, a frase da vez só será revelada no fim. (Não seja curioso, leitor. Fique bem aqui). Existe uma tendência entre todos nós, seres-humanos, a potencializar tudo que nos acontece de mal. “Ai, que tragédia: quebrei a unha.”. E pior ainda: minimizamos o que acontece de bom. “Imagina. Não ficou tão bonito assim. Foi sorte.”. Estes exemplos são apenas besteiras mundanas e cotidianas. Quando o problema é maior, tem gente que acha estar no fim. No fim dos dias mesmo. A jovem, cujo pai descobriu sua gravidez precoce, tem certeza absoluta de que será estrangulada no jantar. A
Janelas e portas Apontou para um dos computadores, e um senhor, de olhos puxados e acinzentadas mechas de cabelo, confirmou balançando a cabeça. Sentou-se, deixou a mochila de lado e abriu seu e-mail. Dentre as centenas de mensagens acumuladas, uma chamou-lhe a atenção. Apenas uma. .Receou um instante, aproximando o cursor por cima do título, que assim dizia: “Bons tempos”. A seta transformou-se em dedo; bastava um clique. Em meio segundo, seu coração bateu quinze vezes e o dedo apenas uma. A tela se transformou, e a mensagem apareceu: em branco, nada escrito. Alívio. Misto de decepção. Um anexo. Uma imagem anexa – denunciava a extensão do arquivo. Quase não atingiu a força necessária para o clique, mas a hesitação do dedo tremido (infelizmente) foi o suficiente para transformar a tela mais uma vez. A foto demorou a aparecer por completo. Horizontalmente foi revelando pequenas tiras. Primeiro, tudo que se viu foi o céu. Logo depois, uma construção de madeira. Com ela, já começou a ente
Esse programa não está respondendo Talvez vocês, queridos leitores, não saibam, mas é fato que nós – e vocês – estamos escrevendo (literalmente) a História. Sim. História com “h” maiúsculo. Estamos vivendo uma época histórica, a era em que o mundo conheceu a Internet! Imaginem a cena: seus netinhos em frente a modernas telas de LCD, aprendendo a desenhar, ou quiçá, criando bonecos de argila em realidade virtual, ouvirão suas “tias” (dificilmente mudarão as nomenclaturas) explicando que, em meados de 1995, o Brasil começava a navegar nas ondas da grande rede mundial de computadores. Ufa! Ao calcular rapidamente em seu palm-top, um guri mais espertinho gritará “Meu avô tinha doze anos nessa época!”. O avô em questão é/será o autor que vos escreve. Quando eu tinha a idade de meu futuro neto no episódio acima, sequer imaginava usar um computador em casa. Dez anos depois, não vivia sem um deles em meu quarto. Cada avanço da internet, torna-se um item absolutamente necessário em nossas vidas

Ying Yang

Que tudo é relativo a gente está careca de saber. Mas o que diabos isso significa? O que o Eisntein quis dizer de verdade? Esqueçam os números, ao espaço com as fórmulas! Estou de falando de pessoas, e de coisas; de pessoas relacionando-se entre si e com as coisas. Como estão as coisas? Sei lá. O que você quer saber? Se está sol, se me dei bem no trabalho ou se ganhei na mega sena? Tudo depende, como sabemos: é relativo. Um vaso azul chanfrado, com ranhuras cor de areia, no meio do meu quarto? De jeito nenhum. Tire e coloque-o (mentalmente) em cima da mesa de centro da sala. Dependendo da sala, ficou lindo. No mínimo, foi condizente. (Detalhe: alguém percebeu o ‘dependendo’ do penúltimo período?) Antes que alguém me pergunte: chove torrencialmente, cometi um erro e nem sequer passei na lotérica. Falo em relativo, lembro-me de ponto-de-vista. Os famosos prismas da vida: cada faceta, uma verdade. Dentro de um grupo de pessoas, facilmente encontramos diferentes verdades, que obviamente,
Inesquecível Em um pequeno edifício, localizado acima de uma antiga drogaria, o palhaço Bozo despertava mais uma vez. Tristemente olhou o despertador de vidro rachado e foi até o pequeno banheiro. Ajeitou os tufos de cabelo vermelho como sempre fez em todas as manhãs de seus setenta e três anos. Vale dizer que dessa vez, seu vasto cabelo – da região lateral, é claro – não reluzia o mesmo brilho vermelho de outros tempos, e sim, um pálido tom rosado, em decorrência do descuido e enorme concentração de fios brancos. Mesmo assim, mantivera sua essência e formato do passado. Atou mais uma vez os cadarços de seu sapato 52, e preparou-se para enfrentar a escadaria que leva ao portão do edifício. Era muito cedo e a farmácia ainda não abrira suas portas, mas podia-se notar alguns enfeites natalinos em seus muros. Tal detalhe despertou na memória do palhaço Bozo uma esperança vivaz. Lembrou-se que era Natal, e que isso trazia vantagens em sua eterna busca por emprego, e quiçá, pelo reconheci