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Mostrando postagens de abril, 2010
Às vezes Às vezes sinto vontade de escrever, falar, mas nem sei por onde começar. Não é por falta de idéia. Curiosamente, penso que acontece o contrário. São tantas que nenhuma fixa, nenhuma fica o suficiente para ganhar forma. Sinto-me perdido numa grande nuvem, bem alta. A sensação não é ruim. Estranhamente confortável, mas dói pensar que talvez não haja fim. Talvez. Não adianta gritar, ou caminhar, estou sozinho nesse acolchoado mar de nuvem. Às vezes olho para baixo e vejo tanta coisa boa. Muitas possibilidades. Pessoas, acontecimentos, vidas inteiras rolando e eu aqui, assistindo. Tem um cara parecido comigo ali embaixo, vivendo em meu lugar. Pensam que sou eu, digo, as pessoas que estão com ele pensam que sou eu. Falam com ele, riem com ele, dançam com ele. E ele lá, aproveitando (tomara) tudo isso em meu lugar. Às vezes acho que ele me escuta. E sendo verdade, seria o único. Quando grito ou falo certas coisas, ele olha para cá, como se escutasse e me procurasse, sem nunca me enc
Terminal Ponto de ônibus, dez da noite. Uma senhora de olhos baixos e óculos meia-lua olha para a rua. Parece até não perceber se sua condução já passou ou não. Olha para rua, pelo menos é nessa direção que seus olhos apontam. Mas não, ela não olha nada. Ou melhor, por dentro, vê seu marido esperando impaciente o jantar que ainda nem começou a ser feito. Ao mesmo tempo, enquanto formas de carro passam à sua frente, vê seus filhos brincando. O mais velho ainda não subiu. Está lá com os amigos, conferindo de tempos em tempos se sua mãe chegou. Em cima, a dois cômodos do pai, a menina caçula imagina seu futuro de princesa com uma boneca velha nas mãos. A senhora de olhos tristes não parece apressada. Ela simplesmente espera, sem esperar por nada. Tem também uma menina bonita. No vigor da juventude. A cada sinal de movimento, pensa em seu ônibus, e pensa em seu prédio, e pensa em seu quarto e pensa em estar deitada ouvindo coisas bonitas do namorado distante. De tempos em tempos, pensa no