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Mostrando postagens de 2008
Madrugada Insônia de novo. Merda. Sei que já devem ser altas horas. Conheço a madrugada pela quase ausência de ruído nas ruas. Acendo a tela do celular. O horário é o mesmo de sempre: quatro e um. De novo? Será isso algum sinal do sobrenatural para um cético como eu? Existe muita coisa que você desconhece, reles mortal. Foda-se. Sempre me aconselharam a correr em caso de insônia. Eu não costumo correr nem de cachorro, quanto mais nas ruas, em plena madrugada. Mas depois de tantas noites acordando às quatro e um era melhor tentar algo diferente. (Se fico na cama, conheço bem o final). Logo ganho as ruas, vou num ritmo leve, preciso ajudar minha condição física a me levar para fora do bairro; ao menos. Depois da segunda grande avenida, começo a me surpreender: estou indo longe demais. Ao melhor estilo Forrest Gump, arrisco uma avenida maior, e vou ainda mais longe. Estou suado, mas não cansado. Corro, e corro mais um pouco. Venço uma grande ladeira, aproveito a descida para respirar. Nã
Doze Deitada de bruços e rosto contra o travesseiro mal conseguia respirar. As lágrimas há muito já secas e a cabeça doendo de tanto pensamento; nojento, desprezível. Ainda se morasse num andar mais alto. Do quinto, a queda poderia apenas ferir, o que faria sua existência ainda mais nojenta e desprezível. Lembrou-se de uma frase de filme B, daqueles nojentos mesmo: se é pra pular, que pule do décimo segundo. Doze, é isso. Doze. Saiu do elevador e tocou a campainha. Um por andar, a porta marcava cento e vinte e um. A empregada abriu com semblante curioso, e antes mesmo que pudesse dizer palavra, a garota do quinto andar saiu em disparada. Empurrou a porta com a empregada junto, correu pela sala, em direção à varanda de céu azul ao fundo. Mas, pouco antes de alcançar a porta de vidro, um jovem que assistia à TV se jogou contra ela. No chão, debatia-se, tentava se desvencilhar. Ele, mais forte, pedia calma. Quando conseguiu fazê-la parar de se debater, olhou a cena por completo. A porta e
Só seis. Da lista de livros diferentes e inusitados que saem por aí, eu não podia deixar de comentar este: 'Not Quite What I Was Planning' (Não era bem o que planejava). Lançado nos EUA, o livro nada mais é do que uma grande coletânea de frases contendo apenas seis palavras, vindas de famosos e anônimos. O curioso é o teor destas frases. Pediram a eles que resumissem a própria vida (até o momento, não estamos falando do Oscar Niemeyer) em seis palavras. Só seis. Fico imaginando a resposta de algumas pessoas. Adriane Galisteu certamente diria: “O antes e depois de Senna”. Já para Silvio Santos, seria justo dizer: “Quem quer dinheiro? Eu sei ganhar”. Caetano, se brincasse com suas próprias citações: “Uma vida verdadeiramente extraordinária, ou não”. Outro menos popular, como o navegador Amyr Klink, poderia dizer: “Passei quase metade dela no gelo”. Clodovil, prepotente como sempre e inspirado na onda do movimento gay, diria: “Orgulho é ter sido o primeiro
2008 Um ano. Muito mais que doze meses ou trezentos e sessenta e cinco dias, um ano é data redonda, usada com freqüência e representativa ao extremo. Para começar, é aniversário; não só o meu ou o seu, mas de qualquer data existente. Dia disso, dia daquilo, bodas de todo tipo e pedra preciosa, até da morte se “comemora” o aniversário. Da escola à pós-graduação (ou qualquer outro tipo de curso), talvez sejam os casos em que o ano ganha mais força, chega a segregar. Eu estou na oitava, mas ela é do primeiro. Nossa, que longe! Inacessível. Há também a característica de relatividade do ano. Se já faz um ano que alguém morreu, quase sempre parece que foi ontem. Quando foi que eles casaram? Ih, tem tempo. Um ano. Morando em outra cidade, o ano causa este efeito contraditório de forma simultânea. Poxa, já faz trezentos e sessenta e cinco dias que não durmo na minha cama. Por outro lado, não acredito que, em apenas doze meses, conheci tantas pessoas e lugares novos. Na maioria, especiais. Deix
Aquilo que é meu Estávamos todos na sala, vendo TV. Papai, muito sério. Desde o jantar que ele não deixava nem mamãe nem Ronaldo abrirem o bico. Eles tentaram por toda a tarde argumentar que a gente deveria dormir na vovó. Em vão. Obedecemos outra vez e enquanto íamos para a cama, campainha. Um moço esquisito, todo encapado, começou a falar. Ouvíamos tudo do corredor. Mamãe, do sofá. Eles conversavam sobre ser perigoso, sobre sair de lá. Papai não deu ouvidos, deu as costas e não deu chance para ninguém dizer mais nada: “para cama”, disse. Fomos. Chovia demais, como há vários dias. Gostoso dormir na chuva. Pena que não durou muito. Não sei se porque quando a gente dorme tudo passa rápido (ou porque passou mesmo), mas logo que fechei os olhos, Ronaldo acendeu a luz. Ele me olhava assustado - notei que pisava na poça. Aliás, o quarto todo era uma poça de água e barro. Com medo, puxei o lençol e me encolhi, Ronaldo veio até mim. A casa tremeu, a luz apagou, telhas caíram, a casa rodou. Em
Passageiro De pé, mochila nas costas, Radiohead nos fones de ouvido, olhos marejados do último bocejo, aguardando o ônibus chegar. Gosta de analisar as pessoas enquanto espera. (Passa o tempo e é divertido.) Aquela senhora dos pés tortos sempre conta com a cidadania que oferece o desconfortável assento de metal, embaixo do ponto. Sempre no mesmo ônibus que o dele, quase sempre no mesmo minuto. Um senhor de camisa por dentro da calça acaba de chegar. Não é tão velho quanto aparenta; seu aspecto surrado e marcas de expressão denotam que não foi só o tempo que acabara com sua juventude. O ônibus chegou. Passam ali dezenas com o mesmo destino que sempre saem lotados, e a cada meia hora, chega o que o leva ao trabalho. Poderia pegar o outro, mas teria que andar mais e enfrentar a lotação constante. Prefere esperar. Sempre consegue um lugar. Abre o livro da vez. (Radiohead continua ritmando seu pensamento.) Termina a página e sente uma presença. Quando olha, ela o encara no mesmo segundo.
Querido diário, Hoje ele olhou para mim. Sei lá como te contar isso, você pode pensar que eu estou exagerando. Mas não, eu juro. Ele olhou mesmo. Olhou de um jeito diferente, de um jeito só pra mim. Está certo que eu não resisti nem meio segundo encará-lo também. Te garanto: deu para sentir que ele continuava olhando. Pode parecer que estou ficando louca, mas tenho certeza que ele me penetrava com o olhar... ************************************************************ Querido diário, Aconteceu!!! Aliás, foi anteontem já. Desculpa não ter te contado antes, é que eu tava tão empolgada e curtindo o momento que me esqueci. Mas estou aqui agora e vou te contar tudo. Foi lindo, mágico. Ele é demais, que beijo, que abraço carinhoso... parece que tudo que ele quer é fazer eu me sentir bem. Naquele momento só existe nós dois. Ele faz questão que eu me sinta assim. ************************************************************ Querido diário,
Diálogo 2. - Nossa. Há quanto tempo. - Camila? - Sou eu mesma André. - Poxa, que bom te ver. E quem é o pequeno? - Caio. Meu maior presente desse mundo. - Ele é lindo mesmo. - Caio, filho, vai lá brincar no parquinho. Mamãe já te chama. - Muito fofo. Posso te convidar pra um café? - Pode, claro. *********************************************************** - Você não tinha esse direito. - Desculpa, eu sei. - Como ‘desculpa’? Já se foram cinco anos. Como recupero isso? - As coisas estavam tão confusas... e, e depois o tempo foi passando... - Desculpa, mas não tem desculpa. - Eu sei. - Ele sabe? *********************************************************** - Pai, posso te perguntar uma coisa? - Claro. - Como era a mamãe? - Já te falei tantas vezes. - Quero saber de verdade... diferente do que a tia Lu e a Vó falam. - Tem alguma que você quer saber em especial? - Por que vocês não ficaram juntos? - A gente já não funcionava antes de você nascer. - Mas você se arrepende? - Como assim? - Se sou
Palavra Cheguei de madrugada e lá estava ele, deitado no meu quarto. Respiração tranqüila, semblante de um dia daqueles. Lindo, mais do que nunca. Deitei em silêncio, e enquanto minha respiração entrava no ritmo da dele, adormeci com um sorriso no rosto. Acordei pela manhã e ele não estava mais lá. Desci rapidamente, procurando ouvir sua voz no andar de baixo da casa. Segui o doce timbre até a sala de televisão, e lá estava ele; ainda mais lindo sorridente. Ao me ver, parou de falar, encarou-me olho no olho e sorriu. A partir daí, saiu correndo pela casa, me levando pelas mãos. Parava o tempo todo e apontava para as coisas, me mostrando que sabe o nome delas todas. Cadeira, cadeira, pedra, carro, teofone. Passei a tarde inteira com ele, brincando, correndo, e descobrindo que tudo tem um nome. E que é tudo descobrir cada um deles. A gente se divertiu um monte, junto e separado. Ele se diverte sempre, eu tento seguir o exemplo. Garanto que fiz do meu fim de semana o mais especial pos
Auto-metalinguagem O cursor pisca incessantemente na página em branco do computador. Preciso de um texto novo. Por mim, pelo blog, enfim: porque sim. Não que a fonte tenha secado, mas é difícil escolher o que dizer e ter tempo suficiente; às vezes. Principalmente quando tudo gira em torno disso. Por mais que a gente ame, cansa. Aliás, só acontece com literatura? Muitas opções, idéias, coisas que vivi, coisas que podem encher as linhas que se seguem de forma literal, ou ao menos, influenciarem alguma ficção ou fantasia. Coisas e mais coisas. Tantas e tão poucas realmente novas (ainda não divididas) que tornam difícil a escolha. Aliás, só acontece com literatura? Mais complicado que a escolha em si é abraçá-la até o fim. É. Com os dois braços e trazer para perto do peito – e com ela ir até aonde for, até onde ela te levar. Escolhe uma, larga. A outra vai mais adiante, mas não vê graça. Odiei esta terceira. Quarta? Ficou pessoal demais. Quinta, sexta, sétima que já se mistura com história
From: Fernando C. Tardivo To: Carlos Date: Fri, Oct 10, 2008 at 09:03 PM Subject: Idéia Chefe, Tenho uma idéia para a agência: que tal se todos os funcionários trabalhassem dia sim, dia não? Em forma de revezamento, obviamente, a equipe estaria motivada todo dia. Pois todo dia de trabalho seria uma sexta-feira. Repare no clima ameno e descontraído das sextas. E o porquê? Porque no dia seguinte ninguém acorda tarde, ninguém fica preso na agência até altas horas, ao contrário: todo mundo sabe que vai se divertir. E a diversão será tamanha, que só a idéia e o planejamento de concretizá-la já divertem. Mais do que isso, ao voltar para o trabalho no “dia sim”, estaríamos descansados e empolgados, graças ao “dia não”. Pense nas possibilidades, visualize o sorriso no rosto da sua equipe! Matematicamente falando, pouco muda: em sete dias, a alternância gera três folgas. Um dia a mais de descanso e muito resultado a mais para a agência. A propósito, hoje é meu dia não. Qualquer coisa, me procu
Memória curta - Mas você vai hoje? - Claro... não tem porquê ficar. - Passa mais essa noite. Amanhã cedo você vai. - Não, prefiro ir hoje mesmo. - Tudo bem. Já sabe pra onde vai? - Não, qualquer coisa durmo num hotel. - Bobagem... - Você viu meu DVD do Brilho Eterno? - Acho que a gente emprestou pro Pedro. Não foi? - É mesmo. Depois eu pego então. - Olha, esse edredom é seu. - Tô levando o outro, e você não tem nenhum. - Eu passo numa lavanderia e te devolvo depois. - Não precisa. Fica. - Fica você. - Já disse que tô indo. - Olha que eu não vou pedir de novo. - Tchau, André. ******************************************** - Você vai ficar quieto o jantar inteiro? - Pra não falar merda, prefiro não falar nada. - Como você é estúpido. - Tá vendo? Você devia ter feito o mesmo. - Infelizmente eu não tenho doze anos e prefiro resolver as coisas. - Resolver o quê? - Você só pode estar brincando. - Eu não vejo motivo pra essa conversa. Eu tive um dia de merda, você também. A gente discutiu e pro
O síndico Seu Torquato sempre foi um homem de poucos amigos, colecionador de inimigos. Por onde passa, faz uns dois ou três. Atendente, garçom, gerente, manobrista, enfim, basta ter algum tipo de contato com ele para ser tomado por um sentimento de completa aversão. Aqueles que o conhecem há mais tempo já nem ligam mais. “Ih, o Seu Torquato? Esse aí é assim mesmo.”. Contador de profissão, é um homem sistemático, praticamente matemático; em tudo que faz. Sua sensibilidade se assemelha à de um avestruz e lida com gente como lida com os números. Para economizar o condomínio de onde mora, decidiu nomear-se síndico: felicidade dos moradores mais Caxias e total desespero dos porteiros e vizinhos moços. Não há nada pior para uma pessoa como Seu Torquato do que dar poder a ela. Na posição de síndico, Torquato é implacável. Vive inventando regras novas e seguindo as anteriores com religiosidade indiscutível. Uma das normas mais recentes proíbe qualquer morador de contratar uma diarista que não
O Big Ben é nosso. Vocês já devem ter ouvido falar do super-experimento científico que está acontecendo nesse exato instante, bem no coração do velho continente. Estou falando do acelerador de partículas, que pretende simular o início do universo: onde tudo começou. Quem somos? De onde viemos? (Excluindo apenas o ‘para onde vamos?’), todas as perguntas vitais prometem ser respondidas, ou ao menos, confirmadas. Tecnicamente, estamos falando de 28 quilômetros de tubulação ultra-moderna, em formato circular. Fica na Suíça, junto da fronteira com a França, e foi construída embaixo da terra, cem metros abaixo para ser exato. O experimento irá fazer dois feixes de prótons correrem em direções opostas, na velocidade da luz. Atraídos por imãs gigantes, estes feixes irão se aproximar, até se chocarem, causando nada mais nada menos que um pequeno big ben, cuja real conseqüência ninguém soube afirmar ao certo. A propósito: o experimento todo está sendo acompanhado por mais de dois mil cientistas
Eu quero a sorte de um amor tranqüilo Com sabor de fruta mordida Nós na batida, no embalo da rede Matando a sede na saliva Ser teu pão, ser tua comida Todo amor que houver nessa vida E algum trocado pra dar garantia E ser artista no nosso convívio Pelo inferno e céu de todo dia Pra poesia que a gente não vive Transformar o tédio em melodia Ser teu pão, ser tua comida Todo amor que houver nessa vida E algum veneno antimonotonia E se eu achar a tua fonte escondida Te alcanço em cheio, o mel e a ferida E o corpo inteiro como um furacão Boca, nuca, mão e a tua mente não Ser teu pão, ser tua comida Todo amor que houver nessa vida E algum remédio que me dê alegria (Cazuza)
Cotidiano Uma escada. Três andares separando seis lances de degraus, entre uma porta e outra. Por dia, são duas travessias; no mínimo. Carregando a si próprio e o peso do dia-a-dia; no mínimo. Bagagem, compras ou volta de balada dobram a dificuldade. Mas nada me tira mais do sério do que chegar lá embaixo pela manhã e aí me lembrar da chave do carro. Estacionar. Parece que o grau de dificuldade em arrumar vagas perto do trabalho piora todo dia. Chegou depois das nove, esquece: vai ter que andar. Outra briga curiosa acontece no horário de almoço: todos os carros voltando antes das duas, atrás do melhor lugar. Café. Em média, uns quatro por dia: dois de manhã, mais dois à tarde. O melhor é o primeiro: logo de cara, quentinho, desce perfeito. O seguinte geralmente está frio, ruim, mal coado, ou simplesmente não está. Acabou, e a coitada da garrafa térmica tosse umas gotas frias no copo plástico. Durante a tarde, idem. Começa bem e vai piorando ao longo das horas. Café. Há quem diga que fa
De novo outra vez Já dizia o poeta: todo grande amor só é bem grande se for triste. E não é que é verdade. Precisa passar por todas as etapas possíveis, com a maior intensidade possível. O ser humano procura isso inclusive. Já que foi intenso até agora, que seja até o final. Falar de fora, como sempre, é muito fácil. Ainda mais quando se tem experiência de causa devidamente cicatrizada. O perigo é viver a situação. Pois a mesma pode se transformar numa busca infinita. Estamos sempre atrás do novo de novo. Para se viver um grande amor é preciso ver a amada como à primeira namorada. (Ponto para Vinícius outra vez). E a gente tenta, e vê e vive... Mas uma hora termina. Transforma-se em coisa nova, ou simplesmente acaba, vai sumindo aos poucos, virando indiferença ou dor. Desaparece enfim, mas não porque acabou, e sim porque se gastou; sem cerimônia nem pudor. Sem medo que um dia acabasse. Muitas vezes, esbanjar o que se conquista é ótimo. É a forma máxima de aproveitar o que se ganhou. In
O que não vi Sabem aqueles filmes sempre presentes em nossa vida? Não sempre no sentido literal, mas vez ou outra, acabam aparecendo. Nos comentários pré-estréia, ganhando posições na bilheteria, lançando extras no DVD, enfim, vocês conhecem o tipo; até passar no SBT, ele já passou de todas as formas possíveis, mas você não viu... Isso aconteceu comigo. Desde que estreou em minha vida, teve vários tipos de papel. Uma vez, quando já estava em seus primeiros dias de TV a cabo, dei a sorte de topar com ela – ao ligar a HBO num domingo de ressaca. Comecei a assistir, e juro: era interessante como eu pensava, como sempre intuí que fosse! Mas tudo acabou com uns amigos dizendo que passariam para me buscar. Minutos depois, eu me despedia (com a revista aberta), prometendo me lembrar da programação... Os amigos daquele dia tenho até hoje. E com orgulho. Conseguem ser mais importantes do que antes, indispensáveis mesmo. Quanto ao filme, e à história que tinha a me oferecer, ainda não vi. Não vi
nós Ele é seu, nosso. Vosso... Posso? É uma coisa, que, sem querer: Causa um negócio. É lindo, leite ninho, mas bem que prefere um danoninho. Sorri sem querer. alegra o viver ... tem que conhecer! Feliz de quem cruzar... João, sempre a brincar. Não finjo, não corro, não nego. Um dia, que há dias espero.
O gordinho mais simpático da Tijuca Sempre ouvi falar que Tim Maia era um porra-loca de marca maior. Drogado quase sempre, reclamão nos shows, isso quando ele cumpria a agenda. Bom, agora que terminei Vale Tudo. O som e a fúria de Tim Maia, posso afirmar: ele é tudo isso e mais um monte. Sebastião Rodrigues Maia era nada mais nada menos que o décimo oitavo filho de Altivo e Maria Imaculada Maia. Detalhe: o casal teve dezenove rebentos. Coincidentemente ou não, eram donos de uma pousada – só os moradores já lotavam as mesas nos horários das refeições. E aí começa uma importante característica de Tim: o apetite. Seu pai cozinhava como poucos, e a pobre Maria Imaculada não conseguia entender como um garoto de doze anos podia comer cinco bifes. Na infância, era amigo de Erasmo Carlos e entregava as marmitas caprichadas de seu pai, que garantia uma renda extra. (As marmitas sempre chegavam mais leves do que saíam.) Anos depois, cansado e gordo, resolveu ir para os Estados Unidos, com apenas
eu Me sinto só mas não só. Me sinto bem também, mas tão bem! Acho que agora é a hora... a hora que se quer toda hora. Agora, não se vê noite afora a hora de não sermos agora. Me sinto só, mas não só. Me sinto bem também, muito bem. Escrevo sem opção; escrevo na contra-mão. Escrevo o que quero, senão: minha escrita pode morrer em vão. Cansei de tentar rimar; cansei de me preocupar. Por mais que eu fuja da métrica, ela sempre há de ficar. (é estética!) Já disse que me sinto só, sem estar. Sem televisão, sem sala de estar. Olho essa tela em branco, vejo lá dentro: encanto. Me sinto bem, tão bem que sinto o bem que só faz o bem. Sinto o presente, lembro o passado. E no futuro, eu quero ganhar dobrado. Me sinto só, mas não só. Eu me sinto bem, mas tão bem! (...)
Nunca para sempre Aeroporto, quase três da manhã. Ele olhava freneticamente para o relógio, de dez em dez segundos. Ela preferia a janela; observava tristemente as gotas da fraca chuva que rolavam pelo vidro, com alguma movimentação de aviões desfocados ao fundo. O assunto havia acabado desde que se sentaram ali, à espera do inevitável vôo. Tanto para falar, e nada para dizer. Lembravam tudo que já tinha sido dito, e do nada que devia ter sido. Apenas esperavam. Ele se lembrou do bar em que chegaram juntos quatro horas antes. Seria hoje, tinha que ser hoje. Aliás, havia demorado. Chegaram só os dois, no mesmo bar de sempre, com uma sensação completamente nova. Ambos sabiam que o lugar era o de sempre, mas a ocasião era a do nunca mais. Cada minuto mágico, e trágico. Os dois se divertiam, brincavam, conversavam, como sempre. E o tempo passava mais rápido do que nunca. Pediram a saideira. Degustaram momentos lindos do curto tempo que passaram juntos. Nunca uma longneck durara tanto. Come
Declaração de amor. Lá vou eu dissertar sobre a Califórnia outra vez. A Califórnia Brasileira, claro; bela e calorosa Ribeirão Preto. Dia a dia me apaixono mais por essa cidade. Tudo aqui tem um jeito próprio de ser, desde as inúmeras praças, tranqüilas avenidas, bares sempre lotados, pessoas e seu jeitinho de falar, enfim, tudo mesmo. Os bares pegaram a moda da Terça em Dobro lançada pela AmBev há um tempo atrás, e ao contrário do que os botecos de São Paulo fizeram, aqui continuaram a promoção por conta do dono. E mais do que isso, pegou tanto que todo dia é dobro de alguma coisa em algum lugar. O problema vai ser o dobro de gente perdendo o dobro de carta. Ah, até o número de bafômetros disponíveis pela polícia dobrou: agora são dois! Avenida Nove de Julho. A daqui ainda é de pedra. Aquelas pedras escuras e irregulares, ideais para quebrar saltos-altos. Foi a primeira via que deixou de ser de terra, mas também não quis saber do asfalto. Ainda bem, seu charme está aí e no canteiro ce
Oito Há quanto tempo não entrava naquela cidade? Oito anos. Lembrou-se nitidamente do dia em que foi embora, cheia de certeza que não voltaria nunca mais. Os estudos enfim terminados, ótimas perspectivas em sua pacata cidade natal, muito vontade de trabalhar, e um único ponto negativo: os amigos que tinha feito ficariam para trás. É a vida, acontece. Mas agora estava de volta. Será que os telefones continuam os mesmos? E as feições? Risadas? Havia mandando alguns e-mails antes de sair e agora corria os olhos pelo computador da lan house, procurando alguma resposta. Havia uma, apenas uma; ao menos uma. Falava de um chá-bar. Um casal de amigos das antigas ia se casar. Chegando ao endereço marcado, um edifício de classe média cujo salão de festas já demonstrava a barulheira do evento, uma certa indecisão. Afinal, há quanto tempo não via aquelas pessoas, e também sentia culpa por ter sido um pouco displicente com eles; nunca foi muito boa em manter os contatos. Resolveu entrar com um sorri
Mutante Aposto que vocês já ouviram falar em Os Mutantes, novela da Record que vem surpreendendo com bons números no Ibope. Mas talvez vocês ainda não tenham tido o prazer de assistir a um episódio. Garanto. Vale a tentativa. Sem juízo de valor, a novela é diferente. Diferente e tosca. Algo como o talento dos jovens aspirantes a galã de Malhação, com um toque de ex-globais que tentam elevar o nível das interpretações, e tudo isso ao redor de uma estória estapafúrdia entre o bem e o mal. Estapafúrdia, pois praticamente 100% das personagens são mutantes, tipo x-men. Além de vampiros, lobisomens, homens-cobra e outras bizarrices. Se tudo isso fosse esteticamente bem acabado, com bons efeitos visuais e cenários caprichados, poderíamos estar de olho num Heroes brasileiro. Mas não. É tudo da pior qualidade, onde um estacionamento apagado se transforma na cidade dos homens-formiga; só para citar um exemplo. Há também os policiais. A Depecom. Uma espécie de grupo secreto especializado em comba
Paradoxo sem fim Paixão é o que nos move. Quando a paixão vence, e o objeto da paixão por ela se apaixona, duas coisas podem acontecer: o fogo apaga, mantendo uma fina brasa em busca de novas paixões, ou o fogo cessa, e se materializa na forma sem forma mais linda que se tem notícia; se transforma em amor. Amor é o que nos une. Quando o amor se espalha, e o fruto amado também ama, uma coisa pode acontecer: êxtase, paraíso, sublimação, arrebatamento, encanto. O encanto vive a encantar, e do encantamento em si, vive-se a plenitude, por um tempo. Tempo que mina o paraíso, enquanto o encanto desaprende a encantar. Novidade sem nada de novo, e o encanto desencanta; Quando o tempo vence o encanto, duas coisas podem acontecer: o amor canta um novo encanto, ou se transforma em sua forma sem forma mais triste que se tem notícia; se transforma em dor. A dor, de tanto doer, chega a arder. E de tanto arder, se transforma em brasa; uma fina brasa em busca de paixão. Novos ares encontrarão essa bras
Danado Ganharam um passarinho. Lindo, pequeno e frágil. Muito frágil. Passarinho novo é assim mesmo; não faz nada sozinho, mesmo querendo fazer de tudo. Mas era lindo, como era lindo o danado. Por mais que alguns dissessem: “pássaro novo é tudo igual”, eles sabiam que não. Esse era diferente, lindo, nosso... dele. Aos poucos, os cuidados mudam. Diminuem, de certa forma. Mudam porque é assim que tem que ser, porque é assim que sempre é. Deixam o passarinho ficar solto, observam de longe, vêem-no cambalear... cada movimento é puro, novo, repetido, e lindo. Como é lindo o danado do passarinho. Passa um tempo e o danado arrisca uns vôos-solo. Vai e volta; logo. Nunca pra muito longe. Às vezes precisam buscá-lo... (...) Cresceu o passarinho, o danado continua lindo que só ele. Descobre novos céus - céus só dele, e eternamente nossos. Mas volta, sempre volta; precisa vir pra ir outra vez. Quando menos se espera, o passarinho já sabe voar longe, bem longe. Mas não vai. Ou pelo menos, não por

do blog antigo, ressuscitado agora

Frases D Efeito. Fiat Stilo. Ou você tem, ou você não tem. Quem nunca ouviu esse slogan levanta a mão. Como eu sei que ninguém levantou, vou comentá-lo assim mesmo. É o mais óbvio e imbecil dos slogans dos últimos tempos. Claro que, ou você tem, ou não. Ponto. Ah, sim. Estão falando do outro estilo, aquele que as pessoas mais in, transadas têm; quase sempre relacionado à moda, lembrou? Pois então, mais uma vez o slogan é uma merda. Porque esse “estilo”, com o qual eles criam o duplo sentido da frase, é totalmente relativo. Pede pra um cara que é estiloso, sucesso absoluto do clube de RPG, entrar numa baladinha hype na Vila Madalena. Tem ou não tem estilo? Sei lá, olha na garagem dele. Pêlos, por que tê-los? Outdoor, por que fazê-los? ... Por incrível que possa parecer, a primeira sentença deste segundo parágrafo assinava toda a comunicação outdoor da clínica estética Onodera. Mais incrível ainda foi a piora da idéia, como se fosse possível, através da imagem: uma cena "normal&quo
Ainda Toda vez que a gente conversa, eu gaguejo. Ela não sabe, mas minha respiração muda e chego a errar letra de música que sei de cor. Meto os pés pelas mãos, troco as palavras, pareço um bobo, quando o que eu mais queria era parecer justamente o contrário. Não sei se ela percebe, não nos vemos tanto assim e tudo é muito recente. E dessa vez quem não sabe sou eu, mas alguma coisa de repente me fez vê-la de um jeito diferente. Ela não sabe que agora eu tenho pensado tanto nela. Sabe que eu existo, isso sim. Mas não sabe que comecei a imaginar como seria viver com ela. Ela não sabe os carinhos que teria, todo dia. Os lugares que a gente descobriria. Desde aquele restaurante escondido, que só São Paulo tem, até algum boteco furreca, numa típica roubada em que a gente se enfia por ser a única opção de madrugada. Ela não sabe, mas a gente iria rir disso. Disso e de muitas outras coisas. Boas piadas, risadas quando não pode, só os dois no cinema, com a galera na balada, riso baixinho debai
Saudade Morro de saudades . Saudade da minha infância , do pequeno eu , correndo pela rua , brincando na pracinha , descobrindo a vida em cada tombo , conhecendo a amizade em cada gol , e entendendo o carinho e proteção que os pais tem pelos filhos . Que saudade dessa época ! Que saudade me dá quando eu entro em casa , e passo pela garagem . Hoje , são só duas paredes . Mas basta fechar os olhos que elas se transformam no campo oficial de gol a gol ; jeito ótimo para jogar bola quando só há duas pessoas . Jogava gol a gol com meu avô , irmão , vizinho , até a Tia Bia já entrou na dança . Saudade da minha escola . Dos amigos e das brincadeiras pelo pátio . Das professoras do primário : Mônica, Cecília e Valéria. Por onde será que elas andam? Provavelmente continuam sua enorme responsabilidade de formar pessoas , justamente na época em que começam a ter discernimento sobre as coisas e