Falante Na primeira noite confesso que não fui muito com a cara dele. Eu tinha apenas seis anos, mas já gostava de cuidar do que tinha; meu quarto era o meu reino. Mas, meu quarto pertencia a um reinado maior: minha casa. E a rainha (mamãe) obrigou-me a aceitá-lo. Como se não bastasse, Marcelo Marmelo Martelo – obra-prima da literatura infantil – veio junto, bem em cima do tal criado-mudo. Enquanto tentava pegar no sono, contando carneirinhos, escutei uma voz. Acendi rapidamente o abajur e nada. Não tinha nada diferente no quarto, exceto pelo novo item da mobília. Olhei para ele e juro que pensei tê-lo visto olhando para mim. Pode ter sido só impressão, mas tinha certeza que o livro fora deixado fechado. Apaguei os olhos e fechei a luz. Ou vice-versa (estava confuso). A voz voltou e continuou falando o que parecia ser o começo do livro. Decidi permanecer de olhos fechados e, aos poucos, a história do pequeno Marcelo foi se confundindo com a minha e quando percebi, a luz da manhã me aco