Aquilo que é meu Estávamos todos na sala, vendo TV. Papai, muito sério. Desde o jantar que ele não deixava nem mamãe nem Ronaldo abrirem o bico. Eles tentaram por toda a tarde argumentar que a gente deveria dormir na vovó. Em vão. Obedecemos outra vez e enquanto íamos para a cama, campainha. Um moço esquisito, todo encapado, começou a falar. Ouvíamos tudo do corredor. Mamãe, do sofá. Eles conversavam sobre ser perigoso, sobre sair de lá. Papai não deu ouvidos, deu as costas e não deu chance para ninguém dizer mais nada: “para cama”, disse. Fomos. Chovia demais, como há vários dias. Gostoso dormir na chuva. Pena que não durou muito. Não sei se porque quando a gente dorme tudo passa rápido (ou porque passou mesmo), mas logo que fechei os olhos, Ronaldo acendeu a luz. Ele me olhava assustado - notei que pisava na poça. Aliás, o quarto todo era uma poça de água e barro. Com medo, puxei o lençol e me encolhi, Ronaldo veio até mim. A casa tremeu, a luz apagou, telhas caíram, a casa rodou. Em