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Mostrando postagens de novembro, 2008
Aquilo que é meu Estávamos todos na sala, vendo TV. Papai, muito sério. Desde o jantar que ele não deixava nem mamãe nem Ronaldo abrirem o bico. Eles tentaram por toda a tarde argumentar que a gente deveria dormir na vovó. Em vão. Obedecemos outra vez e enquanto íamos para a cama, campainha. Um moço esquisito, todo encapado, começou a falar. Ouvíamos tudo do corredor. Mamãe, do sofá. Eles conversavam sobre ser perigoso, sobre sair de lá. Papai não deu ouvidos, deu as costas e não deu chance para ninguém dizer mais nada: “para cama”, disse. Fomos. Chovia demais, como há vários dias. Gostoso dormir na chuva. Pena que não durou muito. Não sei se porque quando a gente dorme tudo passa rápido (ou porque passou mesmo), mas logo que fechei os olhos, Ronaldo acendeu a luz. Ele me olhava assustado - notei que pisava na poça. Aliás, o quarto todo era uma poça de água e barro. Com medo, puxei o lençol e me encolhi, Ronaldo veio até mim. A casa tremeu, a luz apagou, telhas caíram, a casa rodou. Em
Passageiro De pé, mochila nas costas, Radiohead nos fones de ouvido, olhos marejados do último bocejo, aguardando o ônibus chegar. Gosta de analisar as pessoas enquanto espera. (Passa o tempo e é divertido.) Aquela senhora dos pés tortos sempre conta com a cidadania que oferece o desconfortável assento de metal, embaixo do ponto. Sempre no mesmo ônibus que o dele, quase sempre no mesmo minuto. Um senhor de camisa por dentro da calça acaba de chegar. Não é tão velho quanto aparenta; seu aspecto surrado e marcas de expressão denotam que não foi só o tempo que acabara com sua juventude. O ônibus chegou. Passam ali dezenas com o mesmo destino que sempre saem lotados, e a cada meia hora, chega o que o leva ao trabalho. Poderia pegar o outro, mas teria que andar mais e enfrentar a lotação constante. Prefere esperar. Sempre consegue um lugar. Abre o livro da vez. (Radiohead continua ritmando seu pensamento.) Termina a página e sente uma presença. Quando olha, ela o encara no mesmo segundo.
Querido diário, Hoje ele olhou para mim. Sei lá como te contar isso, você pode pensar que eu estou exagerando. Mas não, eu juro. Ele olhou mesmo. Olhou de um jeito diferente, de um jeito só pra mim. Está certo que eu não resisti nem meio segundo encará-lo também. Te garanto: deu para sentir que ele continuava olhando. Pode parecer que estou ficando louca, mas tenho certeza que ele me penetrava com o olhar... ************************************************************ Querido diário, Aconteceu!!! Aliás, foi anteontem já. Desculpa não ter te contado antes, é que eu tava tão empolgada e curtindo o momento que me esqueci. Mas estou aqui agora e vou te contar tudo. Foi lindo, mágico. Ele é demais, que beijo, que abraço carinhoso... parece que tudo que ele quer é fazer eu me sentir bem. Naquele momento só existe nós dois. Ele faz questão que eu me sinta assim. ************************************************************ Querido diário,
Diálogo 2. - Nossa. Há quanto tempo. - Camila? - Sou eu mesma André. - Poxa, que bom te ver. E quem é o pequeno? - Caio. Meu maior presente desse mundo. - Ele é lindo mesmo. - Caio, filho, vai lá brincar no parquinho. Mamãe já te chama. - Muito fofo. Posso te convidar pra um café? - Pode, claro. *********************************************************** - Você não tinha esse direito. - Desculpa, eu sei. - Como ‘desculpa’? Já se foram cinco anos. Como recupero isso? - As coisas estavam tão confusas... e, e depois o tempo foi passando... - Desculpa, mas não tem desculpa. - Eu sei. - Ele sabe? *********************************************************** - Pai, posso te perguntar uma coisa? - Claro. - Como era a mamãe? - Já te falei tantas vezes. - Quero saber de verdade... diferente do que a tia Lu e a Vó falam. - Tem alguma que você quer saber em especial? - Por que vocês não ficaram juntos? - A gente já não funcionava antes de você nascer. - Mas você se arrepende? - Como assim? - Se sou