Entendo a vida com uma
gigantesca corrida de carrinhos de bate-e-bate, cada pessoa no seu carrinho (às
vezes com alguém na carona) andando desgovernada por aí, achando que está plena,
na rota perfeita. A gente vive se esbarrando, é uma corrida do tipo sem campeão;
tem “vencedores” e “perdedores” (cargo que o mesmo cidadão ocupa) mas nunca um ponto
final, reta de chegada. No máximo um descanso, um pit-stop de oito horas aproximadamente,
já que nessa metáfora, todos (exceto alguns que entram pela primeira vez e
outros que param para sempre) continuam na próxima rodada.
Algumas pessoas a gente passa
a corrida inteira sem ver, outras nem vê direito ou vê de longe; mas tem
aqueles que batem de jeito no nosso carrinho e seguimos um bom trecho da pista
juntos. Lado a lado, seguindo, sendo seguidos. É quando um carrinho não quer sair
de perto um do outro. Ou por desejo de quem dirige ou por algum motivo que nem
o carrinho saberia explicar. Esses geralmente, uma vez que somem, não costumam
mais se ver pela pista.
Ainda no mesmo paralelo,
há carrinhos em que você mira, pisa fundo (com a ilusão de acelerar) e vai e
pega e bate com tudo. Por que escolhemos alguns carrinhos para fazer isso? Na
maioria das vezes são amigos, parentes, gente que a gente quer por perto; nem
que tenha que dar um encontrão mais forte de vez em vez. E funciona hein.
Outros casos que ocorrem com
frequência eu vou chamar de “bate-e-bates de momento”. Sabe aquela volta da
corrida na qual uma batida inesperada vira uma boa risada, os dois vão com a
cara e carrinho do outro e sempre que se vêm, dão um jeito de bater de novo,
trocar uns olhares, outros risos, depois seguem para lados opostos. Estes são
os colegas, as afinidades de momento, muitas vezes amigos de amigos: você sabe
quem são quando encontra, mas dificilmente lembra dos nomes.
Mas por que o título desse
texto é bate e volta e não bate e bate?
O fato mais interessante
de carrinho de bate-e-bate é que ele não dá ré. Assim como o tempo, assim como
a vida; pondo um pesinho de filosofia no acelerador. Quando você precisa
voltar, é necessário achar outro caminho para frente. Contradição sem contramão:
voltar seguindo em outra direção. Essa é a volta que o mundo dá, ou que deveríamos
fazer de tudo para que ele desse, sempre que a gente quer ou precisa mudar alguma
coisa nessa vida.
Nunca se trata de voltar
atrás, o caminho é sempre pra frente. Mesmo que ocorram mais batidas nessa mudança
(aliás, é exatamente o que vai acontecer), somente aceitando esse bate-e-volta-e-bate
de novo que a gente consegue rumar - reparem que eu não disse “chegar” - até
onde deseja. Só a coragem de mudar, e de acreditar que essas mudanças são para
melhor, te trarão coisas boas na próxima curva.
Multiplique tantas possibilidades
quantas imaginar às inúmeras rodadas, carrinhos, caminhos, idas e
vindas dessa corrida toda. E sempre que for girar o volante e fazer uma escolha, lembre-se que este
caos que fingimos controlar já possui direção e uma lei infringível: a
terceira de Newton. Tudo que bate, volta.
Comentários
Postar um comentário